sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nós não devemos nos calar


                Ao longo da ultima semana, por meio de uma rápida partilha de coração com uma preciosa amiga, senti a inspiração (prontamente encorajada por ela) a escrever as linhas que você, estimado irmão, tem agora diante dos olhos. E confesso que não sei se isto será tão somente uma partilha, uma vez que, em minha história, há algo de testemunhal acerca daquilo que pretendo aqui expor. Peço à Virgem Santíssima que ilumine não somente o meu coração, mas também o coração e entendimento daqueles que forem alcançados por estas linhas. Ou como aprendi com a amiga que me encorajou a escrevê-las, que não sejam somente palavras, mas espadas afiadas no lenho da cruz, carregadas de oração e da Verdade que não muda nem envelhece.
                Há tempos, desde os imemoriais tempos da criação, o coração do homem anseia pela vida para a qual foi criada. Contudo, por inveja do demônio e por mau uso da liberdade dada por Deus, decidiu o homem dar as costas ao seu Criador e julgar ele mesmo o que era bem e o mal para si. Desde então, tendo tomado nas mãos um poder de decisão que não lhe cabia, o ser humano claudica em seu caminho errante pela história, pondo em cheque por diversas vezes ao longo dos tempos a sua alcunha de civilizados. E ainda mais lamentável é o fato de o homem negar sua identidade de filho de Deus, atentar contra sua própria dignidade em tantos aspectos e, dando abertura à sanha do Inimigo original do gênero humano, deixar-se torporizar e dominar por uma concepção de realidade totalmente diversa daquela para a qual Deus o criou.
                Pois bem, tudo isso não seria tão problemático se vivêssemos em uma sociedade que, entre tombos e tropeços, ainda se preocupasse com os valores humanos que tornam a vida grande e bela, tal qual Deus a sonhou. Entretanto, na cultura contemporânea, parece que grassa no ar uma mentalidade essencialmente rebelde e perversa, que se contrapõe direta e violentamente não somente a valores religiosos, mas a tudo aquilo que promove a grandeza do homem em sua integralidade. De modo ainda mais absurdo, violento e por que não dizer de modo desgraçado, vivemos um tempo em que o homem busca destruir a sua própria existência, lançando mão dos mais diversos expedientes. Dentre tais expedientes, de modo impoluto e politicamente correto, erguido num verdadeiro trono em honra a Satanás, temos a maldição do aborto.
                Acredito que qualquer um de nós, por mais contrário à fé cristã que seja, sente um profundo asco e revolta quando vemos em nossa mídia televisiva crimes praticados contra menores de idade. Estupros, pedofilia, sequestros, assassinados... quero sinceramente crer que isso ainda nos revolte de modo a causar náusea em nosso interior, de modo que sequer suportemos ver tais situações durante um longo espaço de tempo. Acredito, inclusive, que quanto mais jovem for aquela criança que sofre determinado ato de violência, mais aumente em nós a revolta contra aquele ato. Ora, é justamente aí que mora o profundo questionamento moral que aqui apresento: como é que conseguimos não perceber que a vida das crianças que defendemos quando estão fora do útero materno é a mesma vida que está no útero em formação antes que a mulher dê à luz o filho? Que diferença existe entre o gesto grotesco e animalizado do assassinato de uma criança, como por exemplo foi com o menino João Helio, há alguns anos, e os procedimentos de ASSASSINATO da vida que no ventre materno se protege?
                Não me cabe no raciocínio entender de modo diferente ambas as situações, e acredito que isso não deveria caber no raciocínio de nenhum ser humano minimamente instruído. É como dizer que é preferível matar m em  atirando-o de um penhasco a enfiar-lhe uma bala na cabeça. Ambas as atitudes atentam contra o mesmo valor e, se não se leva em conta a realidade de que a vida humana, por si só, é um mistério que escapa às mãos do homem, vemos quão soberba e orgulhosa é a mentalidade daqueles  que se põem a favor de tão abominável prática.     
                De modo ainda mais estúpido parece ser a justificativa desta lei que tramita nas altas esferas do Governo, aguardando a aprovação ou veto da Sra. Dilma Vana Rousseff. Diz-se no texto, com um linguajar técnico e rebuscado do jargão jurídico, que qualquer mulher que tenha sido vitima de violência sexual a qualquer tempo e que dessa violência advenha uma gravidez, em nome do “bem estar” daquela mulher, ela terá acesso a todo um procedimento emergencial de interrupção da gravidez. Ora, em que ambiente imbecilizado e obturado vivemos? Como se pode, em nome do bem-estar da pessoa humana, propor a ela que destrua a vida de um ser que cresce e desenvolve no templo do útero materno? Como pode um gesto assim promover algum bem-estar físico ou mental na pessoa que, grávida, acha por bem retirar de si uma vida que, distinta da sua, não lhe cabe o direito senão de cuidá-la e preservá-la.
                Assim, esta lei satânica que está às portas de se tornar um decreto do inferno em nossa já bastante corrompida sociedade não fará outra coisa senão desencadear um genocídio de inocentes, uma matança impiedosa de seres que nascem não somente de situações irregulares e crimes contra a mulher, mas esta lei maldita abrirá portas para que qualquer casal bem casado, “cristão”, “devoto” possa, em determinado momento, num “alumiamento” de sua mente, decidir que não deseja o filho que a mulher por ventura traga no ventre.         
                Não nos adianta, portanto, como cristãos, defendermos apenas uma porcentagem da vida, como se fizéssemos um conluio com o assassino do gênero humano, dizendo-lhe que: “Por favor, desgrace nossa família, nossa vida, nossa história, mas apenas em parte, para que não nos pese nos ombros a responsabilidade de zelar pelas vidas dos que nos são dados.”Não nos adianta acendermos uma vela ao céu pedindo misericórdia enquanto apertamos a mão de Satanás, aceitando suas propostas hediondas; e de modo especial endereçado à juventude católica brasileira que, nos últimos dias, prepara-se para receber o Sumo Pontífice Gloriosamente Reinante, o Papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude: de nada nos adianta querer viver esse clima de fraternidade  se não nos contrapomos com tudo aquilo que é avesso à dignidade da vida humana. Urge que gritemos corajosamente perante uma sociedade torporizada pela mentira e pelo relativismo moral: “NÃO À MORTE! SIM À VIDA!”. Se não tivermos a coragem de lutar pela vida que Deus planejou para os seus filhos, não temos o direito de fazer parte da Igreja cujos altares foram erigidos sobre o sangue de gente muito mais santa e heroica do que nós, homens que miravam o céu e defendiam dignamente o estandarte da fé católica. Hoje os desafios não são tão diferentes quanto os de outrora, e é necessário, portanto, a mesma coragem e o mesmo brio para vencermos a desgraça que sob os nossos olhos vidrados vem tomando conta da nossa história.
                Que nos ajude nesta batalha contra as insídias de Satanás o glorioso Arcanjo Miguel, príncipe da Igreja Triunfante; que nos sustente a ternura daquela que soube ser Mãe do Verbo de Deus, A Sempre Virgem Maria Santíssima. E que nos inebrie com Seu Preciosíssimo Sangue o Sagrado Coração de Jesus Cristo, fonte de misericórdia para nós e para o mundo inteiro.

Sob o olhar da Virgem Maria,
No amor da Cruz.

Roberto de Castro Amorim

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